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Página inicial O CREFITO-8 Sala de Imprensa Notícias Terapia Ocupacional social e as comunidades tradicionais
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Em 14 de janeiro tivemos a primeira criança vacinada no Brasil contra a COVID-19. Davi, de 8 anos, é indígena, da etnia Xavante e também tem mobilidade reduzida.. 

A partir da Constituição de 1988, reconhece os povos indígenas e quilombolas como componentes fundamentais e fundantes da sociedade brasileira, a quem são necessários direitos específicos (COSTA et al, 2012), o que é muito representativo dado os séculos em que essa população sofreu com expropriação de suas terras, conflitos com a agroindústria e com o Estado brasileiro, além de não serem respeitados em suas diversidade cultural.

Considerando-se que terapeutas ocupacionais realizam ações correlacionadas às interfaces sociais, de saúde e de cultura, estes profissionais encontram-se na intersecção de dois universos entre os conhecimentos dos povos tradicionais e as práticas  técnico-científicas difundidas pela organização ocidental-capitalista. A necessidade de diálogo entre as duas realidades é constante para a composição de saberes, evidenciando-se, assim, a importância de estudos ligados às necessidades específicas (MACEDO et al, 2010).

É possível perceber a disposição dos jovens indígenas para integrar saberes e a percepção de que há grande necessidade do diálogo intercultural para melhorar a atenção oferecida a estas populações. Mesmo assim, a coexistência e a coabitação de práticas e lógicas diferenciadas constituem ainda importante desafio (MACEDO et al, 2010). 

Compreendendo que a terapia ocupacional social fortalece suas práticas no descentramento do saber do técnico, valorizando os  saberes plurais existentes, e que compreende que os sujeitos não podem ser compreendidos separadamente de sua cultura, o foco nos espaços de vida cotidiana das populações tradicionais também se mostra como espaço para ações de terapeutas ocupacionais.

Nestas realidades os profissionais apresentam potentes ações como a facilitação nas comunicações interculturais e na criação de pontes para o reconhecimento e fortalecimento dessas comunidades como detentoras de direitos, como previsto na constituição-cidadã (BARROS, et al, 2002).

Como apresenta Samira Costa, “o trabalho do terapeuta ocupacional social com povos e comunidades tradicionais parte do princípio de que a ocupação, entendida como direito social, é aquela que, coletivamente, significa e produz significado social.” (COSTA, 2021, p. 44). Assim, para terapeutas ocupacionais, a valorização da produção de patrimônio (material e imaterial) e a compreensão sobre as relações entre os seres humanos e demais seres vivos e recursos naturais torna-se elemento de trabalho.

Nesta realidade, é preciso compreender como se dão as relações e mediar as possíveis tensões existentes entre a lógica tradicional e a lógica capitalista, promovendo possibilidade de potencialização dos saberes tradicionais através da proteção social e cultural destes, assim como do fortalecimento dos grupos que se identificam com populações tradicionais. E para este fortalecimento, a inclusão e garantia de acesso dos sujeitos  às políticas de assistência social, educação e saúde, como no caso da vacinação do pequeno Davi, mostra-se como essencial e objeto da terapia ocupacional. 

 

REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS

COSTA, S. M. Terapia Ocupacional Social: dilemas e possibilidades da atuação junto a Povos e Comunidades Tradicionais. Cad. Ter. Ocup. UFSCar, São Carlos, v. 20, n. 1, p. 43-54, 2012

BARROS, D. D.; GHIRARDI, M.I.G.; LOPES, R.E. Terapia Ocupacional Social. Rev. Ter. Ocup. Univ. São Paulo, v. 13, n. 3, p. 95-103, set./dez. 2002

MACEDO, D.,; BARROS, D. D.  Saúde e serviços assistenciais na experiência de jovens Guarani da comunidade Boa Vista. Rev Ter Ocup Univ. São Paulo, v. 21, n. 3, p. 182-188, dez 2010

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